Enquanto que no componente esportivo do Taekwondo há regras definindo os locais do corpo que podem ser atingidos em uma luta, em uma briga de rua a única regra é que não há regras. Quando numa situação de ameaça, o praticante de Taekwondo deve estar preparado para usar quaisquer meios necessários para se defender. Técnicas como socos no rosto ou chutes abaixo da cintura, embora não permitidos no Taekwondo olímpico, fazem parte do Taekwondo enquanto arte marcial.
Se o praticante de Taekwondo prestar atenção nos golpes que ele executa ao praticar as formas (os poomses), ele perceberá que o Taekwondo lhe ensina ataques frontais na garganta, na lateral do pescoço, chutes nos joelhos, bloqueios de chutes na altura das pernas, diferentes ataques na cabeça, etc. Já nas séries de lutas combinadas, nos chamados Han bons e Du bons, o taekwondista também treina socos e cotoveladas no rosto, rasteiras, ataques no queixo e na nuca, chutes pelas costas, chutes na cabeça de um adversário já caído ao chão, e até mesmo chute nos testículos ou quebramento do braço do agressor.
Um praticante avançado de Taekwondo desenvolveu técnicas que podem ser muito perigosas, podendo quebrar ossos do adversário, causar hemorragia interna ou levar a óbito. Por esta razão, o faixa preta deve desenvolver não apenas as habilidades físicas da arte marcial, mas também as morais e mentais. Um dos princípios do Taekwondo, baseado no Taoísmo, é o equilíbrio de todas as coisas. O praticante não deve, por exemplo, utilizar uma força desproporcional para se defender. Se for atacado por um bêbado, por exemplo, a proporção de força para se defender deve ser diferente da que seria utilizada contra uma pessoa sóbria e que representasse um perigo maior.
O praticante de Taekwondo deve se lembrar que, como um artista marcial treinado, ele tem mais habilidades do que uma pessoa sem nenhum treino ou técnica. Em alguns países, um faixa preta é considerado uma pessoa com porte de arma. O taekwondista, então, sabe da força e das técnicas que possui, e não tem necessidade de mostrar ou provar nada para ninguém. A melhor maneira de evitar um conflito é pelo diálogo. Não sendo possível, a próxima opção é correr.
Muitos artistas marciais, ironicamente, nunca precisam utilizar suas habilidades durante toda a sua vida. Pessoas confiantes em si mesmas e em suas habilidades exalam uma aura que tende a afastar potenciais agressores. Assaltantes, por exemplo, dependem dos seus instintos mais do que a maioria das pessoas hoje. Um ladrão quer o seu dinheiro, não uma briga. Se ele "sente" que você não será um alvo fácil, ele provavelmente tentará a próxima vítima. Isso não quer dizer que o praticante de Taekwondo deve andar por ruas perigosas, desertas, com notas de cem caindo dos bolsos. Você deve ser discreto e ter bom senso. Ninguém é invulnerável. Mesmo lutando contra uma pessoa não treinada em artes marciais, um golpe que pegue em cheio ou um ataque por trás pode nocautear o melhor faixa preta.
Uma luta é uma situação em que sua integridade física é ameaçada. Você não criou a situação - você tentou conversar e até mesmo correr -, mas agora, não restando outra alternativa, deve utilizar todos os meios necessários, na proporção de força necessária, para conseguir sair ileso. É preciso, neste momento, ser pragmático, evitando técnicas de bela plástica mas de difícil execução, a não ser que se esteja muito bem treinado.
O Taekwondo, embora muito conhecido hoje por seu componente olímpico, é uma arte marcial completa. O praticante deve estar atento ao objetivo de cada movimento que realiza nos poomses e nas lutas combinadas para automatizá-los, aperfeiçoá-los e, assim, dominar o potente arsenal de técnicas de autodefesa presentes nesta milenar arte marcial coreana.
Glauber Ataide
Referências
PARK, Yeon Hwan; GERRARD, Jon. Black belt Taekwondo: The ultimate reference guide to the world's most popular black belt martial art. New York: Skyhorse Publishing, 2013.